Recentemente o mundo viu os meteoros que caíram na Russia e a maioria das imagens vieram de câmeras colocadas em carros de passeio comuns, mas aí fica a pergunta por que os motoristas Russos usam câmeras para filmar o seu trajeto. .
Tudo começou com uma exigência das seguradoras russas. Não demorou até que as imagens fossem usadas em tribunais para comprovarem agressões e danos ao patrimônio causados por terceiros. Filmagens feitas com câmeras no painel são a única maneira real de provar suas acusações na corte. Esqueça as testemunhas. Batida e fuga é uma situação comum e as companhias de seguro são notáveis especialistas em negar acusações. Seguros que cobrem todos os envolvidos são bem caros e não são disponíveis para veículos com mais de dez anos – os donos só conseguem cobertura para as despesas básicas. Envolva-se em um acidente leve ou grave e pode esperar que a outra parte envolvida minta para a polícia ou, melhor ainda, bata na sua traseira e fuja logo em seguida. Como as seguradoras não pagam até que o agressor seja encontrado e processado, as pessoas recorrem aos vídeos das perseguições que sucedem os acidentes para pegar os números das placas.
Na Rússia todos deveriam ter uma câmera no painel. É melhor do que deixar um cano de ferro debaixo do banco para se proteger (embora essa ideia também não seja ruim). As estradas russas são perigosas, com um baita engarrafamento e enormes valetas, áreas alagadas e rodovias que atravessam imensos desertos de gelo. E também existem partes sem lei onde você simplesmente não vai, policiais com tendência aguda à extorsão e motoristas frustrados que partirão seu carro ao meio na primeira oportunidade.
Essas brigas acontecem o tempo todo e você não pode fazer nada a respeito. Pode apontar para seu nariz quebrado ou vidros estraçalhados o quanto quiser. As cortes russas não gostam de acusações verbais. Mas gostam muito de mandar pessoas para o xadrez por agressão ou destruição da propriedade alheia se houver provas em vídeo. E é por isso que surgiu recentemente uma onda de vídeos feitos com câmeras no painel dos carros, mostrando potenciais agressores se afastando em meio a gritos do tipo “Você está sendo filmado, filho da p**a! Vou chamar a polícia!” Outro problema que as seguradoras tinham é que de vez em quando um motorista encosta seu carro já batido no carro de outra pessoa. Costumava ser uma ação coletiva, com os encenadores de acidentes agindo em grupos. Depois do “acidente”, o “responsável” – muitas vezes uma inocente velhinha – é encarado por “testemunhas”, sofre pressão psicológica e é intimidado a pagar dinheiro no local. Desde que começaram a colocar câmeras no painel, esse tipo de ação não é mais um negócio lucrativo, e ficou restrito a províncias mais simples, onde ainda não se colocam câmeras no painel com tanta frequência. Recentemente uma dessas câmeras flagrou quando um avião caiu ao lado de uma rodovia
E ainda, às vezes, alguém pula para baixo do seu carro em um cruzamento, ficando deitado no asfalto fingindo ser um pedestre ferido, esperando pelo policial que está convenientemente estacionado por perto. Esse tipo de extorsão era dramática até o início da Era da Câmera no Painel. Hoje existem algumas histórias de triunfo, onde a potencial vítima de extorsão acaba virando o jogo e forçando os atores a pagar uma bela grana ou serão eles que serão presos por sua pequena atuação. Mas é bom nem tentar. Embora aqueles que têm sorte de percorrer as estradas e ruas com um passaporte americano ou do oeste europeu sofram menos abusos, a Polícia Rodoviária Russa é famosa no país por sua brutalidade, corrupção, extorsão e por ter no suborno uma fonte de renda. Câmeras no painel não vão te proteger de uma extorsão para se livrar de uma multa, porque você não deveria estar correndo. Mas você estaria um pouco protegido de bêbados de farda, acusações falsas e propinas sem sentido.
Mas há momentos de humanidade entre os acidentes, entre os deslizes, as chamas e as brigas. Existem vídeos de câmeras no painel com finais felizes. Em um acidente na zona urbana, vemos coisa de 20 carros estacionando, os motoristas correndo em direção à cena. E há os momentos de entendimento, uma espécie de “irmandade da estrada” – um perdão que só pode ser visto em rodovias longas, normalmente entre motoristas de caminhão. A razão é simples: quando se está em um trecho inabitado de quase 500 km de extensão, a ajuda só pode vir de veículos que passam, não dos serviços de emergência, e as pessoas sabem disso. A maioria das rotas de longa distância para lá dos Montes Urais é assim. É normal que no inverno russo, os carros de passeio saiam da pista congelada. Imagine um VW Polo solitário, encalhado em uma pilha de neve na beira da estrada. Imagine-se encostando o carro, salvando o motorista de esperar horas por um serviço de resgate caríssimo. A camaradagem entre estranhos, retirando a neve e acenando para uma picape ou trator rebocar o carro. Os cumprimentos, os “boa viagem!”. Saber que o próximo pode ser você. Mas não se esqueça. À parte a gentileza de estranhos, é só você contra o inferno que são os outros na estrada.